quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. Caio Fernando Abreu

E de repente ali alguma coisa aconteceu, meus olhos divisaram os seus, e eu me dei conta.
Deitada sobre suas pernas olhando para você que me segurava a mão com carinho e mexia delicadamente nos fios do meu cabelo. Naquela boate semi vazia, no som uma musica sem fala, nas paredes pintadas de verde, pedaços de quem era aquele que me olhava com um sorriso tão genuino nos olhos. Felicidade de estar ali, era isso!
Era exatamente isso que eu não havia me dado conta desde tantos anos atras, essa felicidade, essa leveza, sentimento de que não era bobo ou ingenuo deixar que tudo isso me envolvesse, e me fizesse completa. Não mais comigo, mas com você. Imaginando não apenas aquele momento, mas planejando junto.
Eu não queria mais ir embora, a festa que andasse sozinha, os amigos que esperassem mais um tempo pra matar a saudade e me desejar um feliz aniversario, tudo que eu queria era permanecer ali com você o tempo necessario para adquirir cabelos brancos e rugas na cara, pois nada estava faltando.
Não importa se os olhos dos outros vêem algo tão diferente entre nós dois, pois pra mim você é perfeito.

@elisaroriz

- sem titulo - apenas um pensamento vago.

E ela morria de raiva quando sentia mais saudade do que precisava. Não apenas por achar exagerado e quase super-estimado, mas por que dessa forma, doía mais quando aquelas longas ausências apareciam.
Elas não estavam ali por falta de vontade de presença. Isso que talvez mais machucasse, mais ainda do que a saudade voluntariamente aumentada. É que ela sempre quis poder contornar esse enorme espaço, literal e metafórico, que existia entre eles algumas vezes. E em outras tão perto. Quem sabe não havia um meio termo, de espaço e saudade também.
Ela ainda morria de raiva quando por costume, convenção ou quem sabe por comodidade não dizia que aquilo era bom e que ela esperava que de uma forma qualquer, qualquer mesmo, não fosse acabar. Que se fosse mudar, mudasse o sentido, e não a intensidade. Como se ele pudesse um dia odiá-la de verdade, mas jamais deixasse se tornar apenas uma amizade comum. Também quando, pelos mesmos motivos, não apertava ele bem junto de si e dizia que era importante. Dava aquele desespero bom de não saber nada nunca.

@elisaroriz

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

“Tinha esquecido do perigo que é colocar o seu coração nas mãos do outro e dizer: toma, faz o que quiser.” Caio Fernando Abreu

E se perguntassem o que vem a ser o certo, Gabriela olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia ido embora, mais um amor havia chegado ao fim. Nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então assim não a tocavam. Não tocava porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas Gabriela parecia acostumada. Acostumada e fria porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando Antônio e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado. Fosse o ponto final sua última lágrima de dor, já havia então sido decretado. Decretado num discurso mudo, num adeus em silêncio. Dito através de tudo daquilo que não havia sido falado. Antônio não parecia prestes a dizer nada. Gabriela não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco. Seu amor, comparado ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. Seja feliz.”
Caio Fernando Abreu

...Quando vem o amanhã incerto, e a certeza me faz ver o inverso... ♪

"Mais do que querer você de volta, eu ME quero de volta, quero a felicidade nos meus olhos mirados em você . Eu quero a gente, eu quero tudo de novo, eu quero as coisas antigas, as primeiras, TODAS ! Me devolve seu sorriso ? Parece que eu não te faço mais sorrir, assim eu desespero mesmo. É uma resposta simples pra uma pergunta simples: Você vai voltar?"
Caio Fernando Abreu